O recente lançamento do programa de crédito consignado privado, promovido pelo Governo Federal como forma de ampliar o acesso ao crédito para trabalhadores da iniciativa privada, trouxe à tona uma importante discussão: os altos juros cobrados pelos bancos e a ausência das cooperativas de crédito na linha de frente da iniciativa.
Juros elevados e alerta à população
Segundo balanço divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), já foram liberados mais de R$ 2,8 bilhões em empréstimos para cerca de 452 mil trabalhadores. No entanto, diferentemente do que se esperava, as taxas de juros cobradas no novo consignado são mais altas que no modelo anterior.
Enquanto o antigo consignado — direcionado a trabalhadores de grandes empresas com acordos diretos com instituições financeiras — oferece juros médios de 2,92% ao mês, o novo modelo já registra taxas acima de 3,5% ao mês em algumas instituições. O público-alvo mais amplo e com maior risco de inadimplência, como trabalhadores negativados, justifica em parte esse aumento. Ainda assim, o cenário acendeu o alerta no governo, que passou a recomendação de cautela e educação financeira antes da contratação.
Cooperativas de Crédito: Onde elas estão?
Um ponto que tem gerado frustração no setor financeiro solidário é a baixa participação das cooperativas de crédito nesse programa. E não por falta de interesse ou capacidade — as cooperativas vêm crescendo de forma consistente, oferecendo taxas mais justas, proximidade com o cooperado e atendimento personalizado. A entrada não é um campo tecnológico e cadastral, especialmente na integração com a base da DATAPREV, responsável pelo processamento de dados da folha de pagamento.
A burocracia para obter acesso aos dados necessários para a consignação — especialmente em um ambiente com múltiplos trabalhadores e sem um convênio centralizado — tem impedido que as cooperativas operem com a mesma agilidade dos grandes bancos. Como resultado, os grandes players do mercado financeiro, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, já dominam mais de 60% das concessões do novo consignado.
Oportunidade perdida para o cooperativismo
Essa situação representa não apenas um obstáculo técnico, mas uma grande oportunidade perdida para o cooperativismo financeiro brasileiro. As cooperativas poderiam atuar como agentes de inclusão e justiça financeira, oferecendo crédito com taxas mais baixas, baseado em modelos mais sustentáveis de relacionamento com o cooperado. Além disso, podemos colaborar ativamente para evitar o superendividamento da população — risco que cresce à medida que mais pessoas contratam crédito com juros elevados e pouca orientação.
Por Gustavo Gonçalves – Gerente Comercial da Fáciltech
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